O projeto Florestas Culturais, realizado pelo Programa Arboretum de Conservação e Restauração da Diversidade Florestal, chegou à sua terceira etapa. Desde a segunda etapa, o Florestas Culturais foi rebatizado de Mimatihi, que significa, no idioma Maxakali do tronco linguístico macro-jê, “Floresta Viva”. A atual etapa, iniciada em julho de 2024, com atividades desde setembro, traz um enfoque inovador, ampliando as áreas de restauração ambiental, fortalecendo a cultura da coleta de sementes e produção de mudas e incluindo indígenas como bolsistas, com vistas a fomentar a autonomia. O projeto continua com enfoque na segurança alimentar, economia sustentável e valorização de saberes ancestrais. Essa etapa terá duração de sete meses.
--Formação, oficinas e mutirões
A terceira etapa tem focado na manutenção das áreas já restauradas em ciclos anteriores, somando atividades como formação de professores, oficinas de educação e comunicação socioambiental com jovens e mutirões para o plantio de Sistemas Agroflorestais (SAFs).
Esses esforços têm resultado em um cuidado contínuo com as áreas antigas de restauração, muitas das quais estão “muito bem cuidadas e com árvores de até três metros de altura”, de acordo com Cátia Hansel, coordenadora dessa etapa do projeto. “O que demonstra o compromisso das comunidades com a restauração. Além disso, estamos criando a tradição da coleta de sementes para produção de mudas, gerando um ciclo sustentável que une conservação e cultura da floresta”, ressalta Hansel.
O projeto inclui ainda atividades práticas de coleta de sementes, produção de mudas, plantios, replantios para manutenção das áreas restauradas, manutenção do viveiro, entre outros.
--Bolsistas indígenas e novos plantios
Uma das inovações da terceira etapa é a inclusão de bolsistas indígenas, que atuam como agentes agroflorestais e viveiristas. Esse modelo contribui para que as comunidades se tornem protagonistas da restauração florestal, assumindo papéis nas atividades que envolvem o manejo dos SAFs e a produção de mudas no viveiro.
Entre as espécies prioritárias desta fase está a embaúba-vermelha (Cecropia glaziovii), de grande importância para os povos Maxakali por fornecer fibras utilizadas na confecção de artesanatos e utensílios. Atualmente, as embaúbas estão distantes das aldeias, obrigando os indígenas a percorrer longas distâncias para a coleta. O projeto visa plantar essas árvores próximas às áreas das aldeias, facilitando o acesso e contribuindo para o fortalecimento da economia local.
--Resultados e impactos
Desde sua criação, o Florestas Culturais “Mimatihi” já transformou cerca de 20 hectares de terras indígenas, combinando restauração florestal com práticas agrícolas sustentáveis. O envolvimento direto das comunidades e a implementação de atividades participativas, como oficinas e encontros culturais, têm promovido o resgate de saberes e o fortalecimento de laços entre os povos e a floresta.
Além disso, o projeto estabelece parcerias internacionais, contando com o apoio da iniciativa Canada’s Global Forest Leadership Program - IMFN Climate, no âmbito da Rede Latino-Americana de Bosques Modelo. Essas iniciativas promovem políticas florestais sustentáveis, incentivando a gestão de florestas que contribuem para as metas globais de clima e biodiversidade, com ênfase no manejo florestal sustentável, na bioeconomia e na gestão de incêndios florestais.
Para as comunidades envolvidas, o projeto representa mais que uma ação de restauração: é um instrumento de resgate cultural e fortalecimento de uma relação ancestral com a terra.
Texto: Michele Ribeiro/ Sentidos Urbanos
Foto: Fred Nunes
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